24/05/15

Malaca

Museu e Memorial da Proclamação de Independência
Partimos de Singapura em direcção a Malaca (Melaka em malaio), cidade ocupada por Portugal durante 130 anos, num autocarro que demorou cerca de 4h. A passagem pela fronteira foi rápida e a viagem incluiu uma curta paragem (15 ou 20 minutos) numa área de serviço já na Malásia.

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Chegados a Malaca, partimos em busca de vestígios da nossa presença que se prolongou por 130 anos, aquando da passagem de Afonso de Albuquerque e de São Francisco Xavier por estas bandas. 


Pouco depois de atravessarmos a rua em frente ao nosso hotel chegamos à "A Famosa" ou "Porta de Santiago", o único portão que ainda resta da muralha que os portugueses erigiram em 1511 para defender a cidade dos ataques dos sultanatos vizinhos. Em 1641, aquando da queda da cidade em mãos holandesas estes alteraram as inscrições da mesma, daí a referência ao "ANNO 1670". Esta é hoje em dia uma das principais atracções da cidade.

"A Famosa" ou "Porta de Santiago"
Nas imediações da mesma, no topo de uma colina, encontram-se as ruínas da Igreja de São Paulo, onde repousaram temporariamente os restos mortais de São Francisco Xavier, antes de serem transferidos para Goa. Em frente à mesma existe uma estátua do mesmo que nos foi impossível de fotografar dado o elevado número de turistas chineses que se penduravam nela. As ruínas da igreja encontram-se em mau estado de conservação. E por aqui se ficam os nossos vestígios no centro da cidade, existindo ainda uma (muito) má réplica de um suposto galeão português (intitulado "Flor de la mar" e que aloja o museu marítimo) que alimenta parte do "circo" que é o centro da cidade: dezenas ou mesmo centenas de riquexós decorados com "hello kitty", supostas réplicas de tudo e mais alguma coisa, etc.



Antiga cripta de S. Francisco Xavier
Museu "Flor de la mar"
Pequena parte do "circo"
Caminhamos então até um das imagens de marca da cidade, a praça holandesa onde se situam vários edifícios avermelhados, nomeadamente a Igreja de Cristo e o Stadthuys, o centro administrativo  da cidade sob ocupação holandesa. Próxima desta zona, existe uma "nova" (século XIX) igreja dedicada a São Francisco Xavier.






Daqui até à Little India e à Chinatown é uma pequena caminhada mas ambas foram para nós uma decepção. A primeira é suja (com esgotos a céu aberto relativamente "encobertos" por placas de cimento) e com poucos ou mesmo nenhuns pontos de interesse. Grande parte do comércio encontrava-se fechado (aparentemente de forma permanente) e o movimento de pessoas era reduzido (contrariamente ao trafego automóvel que era excessivo, como em quase toda a parte histórica da cidade). Já a Chinatown foi transformada (transfigurada?) numas poucas ruas dedicadas exclusivamente ao turismo: com venda massiva de souvernirs - que pouco ou nada tinham a ver com a Malásia, muito menos com a cidade - ao som dos Beatles e música pop actual, hotéis e restaurantes/bares completamente ocidentalizados.










Algo desapontados com a cidade, tentamos uma nova aproximação à mesma com um passeio nas margens do rio. À primeira vista parece uma boa ideia e as fotografias que havíamos visto antes deixaram-nos curiosos. Mas a realidade é, infelizmente, diferente: o casario em redor do rio encontra-se extremamente degradado; noutras áreas construíram monstruosos hotéis completamente desenquadrados com o cenário; o rio poluído ao ponto de, após nos termos concentrado nesse aspecto, contarmos algumas dezenas de peixes mortos à tona da água.





Cansados da viagem até à cidade e das caminhadas pela mesma sob um calor abrasador, decidimos regressar ao hotel para um reconfortante banho e uma bebida de boas-vindas que havíamos adiado. Voltamos à carga já próximo da hora de jantar, desta feita para apanhar um taxi que nos levasse à nossa última esperança de empatizar com a cidade, o Perkampungan Portugis ou bairro português, onde se localiza a Medan Portugis: uma praça onde existem restaurantes especializados em marisco e suposta culinária "euroasiática" porta sim, porta sim. A população desta zona é da etnia Kristang e é descendente de casamentos da era colonial entre portugueses e nativos. Falam uma língua creoula própria, também ela denominada Kristang ou simplesmente Cristão/Cristan, que importou grande parte do seu vocabulário do português arcaico e o integrou no malaio.

Como fomos num sábado, a praça encontrava-se repleta de gente mas optamos por um dos restaurantes mais afamados e que fica ainda antes da mesma, o Restauran de Lisbon. Pedimos o Debal Curry (o caril mais parecido a um caril de frango português que alguma vez comemos fora do nosso país) e o Sambal Crab, um prato de caranguejo que foi dos mais picantes e deliciosos de todas as nossas férias. O restaurante era familiar e tinha pouca gente, aparentemente ninguém entendia uma palavra do nós dizíamos. No entanto, os bares nas imediações tinham quase todos a nossa bandeira e eram visíveis fotografias de grupos kristang em tudo similares aos nossos ranchos folclóricos e ainda algumas imagens de naus portuguesas. Terminamos a noite com um passeio na praça, junto ao mar e regressamos partilhando um taxi chamado pelo próprio restaurante ao nosso hotel.

Tínhamos finalmente encontrado uma razão para empatizar com Malaca e afinal ainda lá estamos, nem que seja só um bocadinho.







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