09/12/16

Irkutsk

Irkutsk é conhecida como a capital da Sibéria Oriental e é a maior cidade na proximidade do lago Baikal, ao qual se encontra ligada por um reservatório de água com o nome da cidade. Esta é também uma cidade com grande importância ao longo da história da Rússia. Fundada por Cossacos, serviu de refúgio aos dezembristas depois da tentativa falhada de revolução no princípio do século XIX e foi o último grande reduto dos czaristas na sequência da revolução bolchevique um século depois. Há quem a apelide de "Paris da Sibéria" mas sinceramente não encontramos qualquer semelhança, o que em boa verdade é o que geralmente acontece nas várias "Paris" e "Venezas" que vamos visitando por esse mundo fora.


Fruto da sua história e da sua localização geográfica, Irkutsk é de facto uma cidade muito diferente das restantes cidades russas. Em termos arquitectónicos não houve uma "sovietizacão" da cidade pelo que ainda predominam as típicas casas de madeira um pouco por toda a cidade. Nas duas principais avenidas, a Lenina e a quase sempre perpendicular Karla Marksa, estas dão lugar a edifícios mais imponentes e trabalhados dando um aspecto mais europeu a esta parte da cidade.




A melhor forma de se conhecer a cidade é a pé, uma vez que o centro da mesma é relativamente pequeno e há um trajecto que passa por praticamente todas as atracções marcado por uma linha verde no passeio. Há 4 tipos de transportes públicos, que poderão ter alguma utilidade na hora de regressar de um ponto mais longínquo ou para ir para as estações de autocarro ou comboio. O mais útil e fiável é o eléctrico embora tenha poucas linhas. Os autocarros/trolleys são pouco frequentes em detrimento dos imensos muni-bus que complementam o seu serviço mas que estão sempre a abarrotar e não parecem interessados em transportar turistas (na viagem para a estação de comboios tivemos que recorrer a um táxi após 2 mini-bus consecutivos se terem recusado a levar-nos). Por fim, então os táxis com os quais é melhor regatear o preço em vez de usar o "taxímetro" que em alguns é uma duvidosa aplicação no seu smartphone. Uma corrida de táxi, de uma ponta à outra da cidade, não deverá custar mais de 200 rublos depois de regatear.

Para conhecer a cidade é aconselhável uma estadia de pelo menos 2 dias. Um dia será suficiente para ter uma ideia geral da mesma, contudo. A Avenida Karla Marksa acaba por dividir, convenientemente, as atracções da cidade em duas metades: a parte ocidental da mesma é um misto de Igrejas de diferentes épocas, edifícios soviéticos e alguns do tempo dos czares. Há uma enorme praça central com direito a jardim, a Kirova, e uma boa parte das atracções de relevo estão em seu redor.


A mais bela é a Catedral da Epifania, com os seus adornos vermelhos e dourados no exterior e um espaço interior de fazer inveja a qualquer outra no mundo. Do outro lado da rua, a mais antiga Igreja do Salvador. Há ainda uma igreja protestante e outra católica a uns 100 metros.









Aconselho vivamente a ida até margem do rio, de onde é possível admirar de tudo um pouco: desde pequenas casas de pescadores a monstruosas zonas industriais, passando por várias estátuas de vários períodos, sendo a mais importante a de . Pelo caminho, "encravado" entre duas das principais igrejas da zona, há o habitual monumento aos soldados que deram a vida na 2a grande guerra, com a particularidade de este ainda ter uma significativa guarda composta por adolescentes que se rende de 15 em 15 minutos, algo impressionante tendo em conta o frio gélido da cidade.











A parte oriental da cidade tem um aspecto bastante diferente, menos urbano e de certa forma mais asiático. As edifícios imponentes dão lugar a ruas repletas de casas de madeira, umas restauradas, outras a cair, e o bulício de pessoas e veículos motorizados intensifica-se.





A mistura de diferentes etnias e culturas torna-se mais evidente, o que acaba também por se traduzir na presença de igrejas, mesquitas e uma sinagoga a escassos metros. Escusado será dizer que uma vez mais, não era possível visitar a sinagoga que se encontrava rodeada por inúmeras câmeras de CCTV. Há ainda uma rua pedonal de comércio perpendicular à Karla Marksa que embora ainda “pareça” russa, tem várias travessas de comércio que mais parecem retiradas de uma qualquer cidade asiática.




O principal atractivo desta zona é a Igreja do Levantamento da Cruz Sagrada, ou simplesmente Igreja da Cruz, e o circundante bairro turístico - outrora o mais “típico” da cidade, que tem início numa pequena praceta facilmente identificável pela estátua do símbolo e brasão da cidade: um tigre siberiano com uma zibelina (uma espécie de marta) na boca.












Desta zona, é apenas uma caminhada de 10 minutos até ao gigantesco mercado central. Este é composto por diferentes áreas, espraiando-se através de várias ruas. A parte mais interessante é que fica no espaço fechado, com imensas bancas de frescos e comidas já cozinhadas no seu piso inferior e com um piso superior recheado de produtos electrónicos, nomeadamente "iPhones" falsos difíceis de distinguir dos verdadeiros a menos de 100 euros. É de ter em conta que os vendedores deste mercado são algo aversos a fotografias pelo que é aconselhável que as tirem a uma certa distância ou idealmente do piso superior. Se lhes pedirem autorização, irão na sua maioria dar-vos uma nega. Este é provavelmente o sítio onde a miscelânea de culturas é mais evidente: de comida russa a asiática, passando pelo famoso peixe seco e/ou fumado, bancas de especiarias e pequenos cafés buriates onde os locais apreciam buuzy, dumplings de massa fina recheados de carne de vaca e borrego, mais raramente de vegetais.















Prosseguindo caminho, na região nordeste da cidade há um pequeno agregado de atracções relativamente interessantes: a azul casa-museu do dezembrista Sergei Volkonsky, o museu do chá (que se encontrava fechado) e um pequeno espaço exterior que explica como eram feitos os detalhes das casas em madeira.


Por fim, a rua mais agradável da cidade, a já mencionada Karla Marksa. Esta percorre a cidade de norte a sul, sendo uma mistura de edifícios neoclássicos e modernidade. Os edifícios mais belos são o Teatro do Drama, um dos mais antigos de toda a Rússia, e a sede local dos caminhos de ferro russos . Há ainda uma grande oferta de opções de restauração, incluindo o fantástico Café Belga - uma excelente opção para o pequeno almoço ou lanche a fazer lembrar as nossas pastelarias - e um pequeno mas bom restaurante coreano chamado Kimchi, com preços muito acessíveis.





Um bom sítio para contactar com os poucos locais que falam inglês é o "Inteligent Bar" embora os preços sejam elevados tendo em conta o nível de vida da cidade. Após uma curta conversa com dois cabeleireiros russos que tinham tido um professor português, saímos de lá com um punhado de selfies conjuntas e com um "terço" ortodoxo que já teria transitado 3 gerações. Num dos dias, "apanhamos" ainda uma demonstração de material bélico com o aparente intuito de cativar jovens para o exército.


Para quem se interessar pelo assunto, um dos dois antigos "quebra-gelo" do lago Baikal, o Angara, encontra-se atracado perto da cidade. O seu "irmão" jaze há algum tempo no fundo do lago.

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